sexta-feira, 10 de abril de 2009

"Instituto de Aprendizado Eletrônico"?

retirado do site da Adusp | 29 de setembro de 2008

A proposta de criação de um Instituto de Aprendizado Eletrônico (IAE), formulada por uma comissão especial, foi encaminhada pelo Conselho Universitário (CO), em sua sessão de 2/9, à Comissão de Atividades Acadêmicas (CAA) para que lá se discutam os fortes questionamentos, em especial da representação discente.

A reunião do CO estava convocada inicialmente para o dia 26/8. Seu adiamento ocorreu, segundo um dos representantes da pós-graduação, Pedro Silva Barros, porque a Comissão de Orçamento e Patrimônio (COP) decidiu, em sua reunião de 18/8, rejeitar a proposta de criação do IAE: “A proposta chegou à COP antes de a CAA deliberar sobre ela. Para acelerar o processo, resolvemos levantar questões mínimas, objetivas para apreciar o tema”, conta Pedro. O estudante explica que “a proposta não estava nada clara — e não apenas para a representação discente”.

O professor Gil da Costa Marques, presidente da Comissão Especial para tratar de Aprendizado Eletrônico na USP, remeteu à COP as respostas às questões levantadas. Mas o representante discente sentiu-se ofendido pelo teor das respostas: “Ele dá respostas ‘recorta e cola’, como se a gente não tivesse lido o projeto original. Tanto que o professor-relator [da COP] não quis ler as respostas”, revela Barros.

A COP rechaçou, por 4 votos a 3, o parecer do relator, apresentando como alternativa ao Instituto a criação de uma Coordenadoria para o Programa de Aprendizado Eletrônico. “Uma coordenadoria é muito mais facilmente revogável. Se não for o melhor caminho, que se volte atrás. Como o processo chegou sem pé nem cabeça, não havia a explicação de por quê tinha de ser um Instituto”.

Interrupção

Após este trâmite, a representação discente no CO redigiu uma carta sobre o IAE para a reunião de 2/9. Porém, no debate realizado no CO, a estudante Ester Rizzi teve seu tempo de fala interrompido pelo professor Gabriel Cohn, diretor da FFLCH, sob a alegação de que a leitura da carta produzida pelos representantes discentes redundava com as cópias impressas recebidas por todos os conselheiros. Barros reclama: “A leitura de um texto pequeno não ia tomar cinco minutos. A conseqüência do ato dele [Cohn] foi um prejuízo para nossa argumentação”.

Os estudantes questionaram a generalidade da proposta, falhas na justificativa e a falta de discussão sobre o papel do Aprendizado Eletrônico (AE) e do Ensino a Distância (EaD) na USP com atores importantes como, por exemplo, a Faculdade de Educação. “Parece-nos que a proposta é simplesmente ‘ampliar a oferta de cursos de nível superior no Estado de São Paulo’ (Resposta do Prof. Gil da Costa Marques aos questionamentos feitos pela COP, folha 21-frente), sem se preocupar com que tipo e com qual qualidade este ensino superior será oferecido e se faz sentido a USP, como um centro de excelência, oferecê-lo”, registra o documento.

Essa crítica também é feita pela professora Lighia B. H. Matsushigue, da diretoria ampliada da Adusp: “A problemática geral é que você tem todo um conjunto de ações, não só na USP, mas em todo lugar, para alçar o ensino a distância à condição de ensino válido, por si só”. Isso preocupa a professora no tocante à formação de docentes para a educação básica.

“Faltam professores em certas áreas, especialmente áreas científicas, como a matemática. Agora, pessoas que nunca tiveram envolvimento maior com a parte pedagógica propõem um instituto para concentrar todas as atividades de AE e EaD, e também canalizar dinheiro da Univesp. Isso está descendo de uma forma que parece indicar apenas o interesse de algumas pessoas em ter um espaço de mando.”

Barros estranha o fato de um projeto de conteúdo tão polêmico haver chegado ao CO sem nenhum histórico de contraditório: “[Isso] é uma picaretagem para o pessoal do ensino básico da rede pública, que não tem nível superior, conseguir um diploma. O que surpreende é que a Faculdade de Educação não tenha sido consultada. Esse trâmite a toque de caixa é reflexo da certeza, de alguns, de que o conselho [CO] é facilmente controlável”.

Referência?

O IAE é justificado, entre outras coisas, pela “crescente demanda de profissionais qualificados para o desempenho das novas funções da era da informação e comunicação”, e pretende tornar a USP um “padrão de referência para a educação a distância no Brasil”. Se aprovado, o Instituto coordenará os cursos ministrados pela USP para a Univesp. O primeiro projeto seria a criação de uma Licenciatura em Ciências através de EaD.

O professor Gil da Costa Marques, da Coordenadoria de Tecnologia da Informação (CTI), sustenta que não há relação imediata entre o IAE e a Univesp, embora a proposta cite que a criação do instituto “permitirá à USP, num primeiro momento, atrair recursos da ordem de 15 milhões de reais referentes ao programa Univesp” (p. 17). Segundo ele, as propostas de criação tanto da Licenciatura quanto de um órgão para o Aprendizado Eletrônico remontam à gestão Melfi.

No GT então criado, afirma, existia pelo menos um profissional da área da Educação (e ele lembra que na atual comissão há um representante da Pró-Reitoria de Graduação). “A professora Suely [Vilela] gostou da idéia de ter um orgão para pensar o aprendizado eletrônico. Essa comissão foi montada com base na comissão anterior”, declarou Marques ao Informativo Adusp.

Ele não responde se a melhor escolha para formar docentes para a educação básica é o EaD, mas avalia que pode ser a mais rápida: “A Sociedade Brasileira de Física aponta a existência de 50 mil professores de Física no Brasil que não têm um diploma universitário. Nós estamos formando cerca de 300 professores de Física nas licenciaturas por ano. Nesse ritmo, nunca vamos formar todos esses que precisam”.

Segundo Marques, a escolha pelo formato de Instituto parte do princípio de que uma Coordenadoria é um órgão administrativo, enquanto o primeiro permite avançar na área da pesquisa. Ele também afirma que os custos não costumam variar de um modelo para o outro.

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